terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Poema Verão - Ferreira Gullar

Este fevereiro azul
como a chama da paixão
nascido com a morte certa
com prevista duração
deflagra suas manhãs
sobre as montanhas e o mar
com o desatino de tudo
que está para se acabar
A carne de fevereiro
tem o sabor suicida
de coisa que está vivendo
vivendo mas já perdida
Mas como tudo que vive
não desiste de viver,
fevereiro não desiste:
vai morrer, não quer morrer,
E a luta de resistência
se trava em todo lugar:
por cima dos edifícios
por sobre as águas do mar.
O vento que empurra a tarde
arrasta a fera ferida,
rasga-lhe o corpo de nuvens,
dessangra-a sobre a AvenidaVieira Souto e o Arpoador
numa ampla hemorragia.
Suja de sangue as montanhas,
tinge as águas da baía.
E nesse esquartejamento
a que outros chamam verão,
fevereiro ainda agoniza
resiste mordendo o chão.
Sim, fevereiro resiste
como uma fera ferida.
É essa esperança doida
que é o próprio nome da vida.
Vai morrer, não quer morrer.
Se apega a tudo que existe:
na areia, no mar, na relva,
no meu coração - resiste.

4 comentários:

  1. Boa tarde,

    Vou levar para o: http://marialuisamoreira.blogspot.com

    Abraço
    Luisa

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  2. Oi Luisa, esse poema é maravilhoso!!!
    Um abraço, Ana

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  3. Poema difícil manooo!!! Minha professora mandou eu transformar ele em um texto em prosa, mas eu não aguento mais isso!!! É muito difícil de entender !!!

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    Respostas
    1. a minha professora mando eu tranforma em um texto prescritivo mais tahh mt dificil alguemm aii sabee me ajkudaah ???

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