Brasil- Uruguay , de carro

Dizem que a primeira vez a gente nunca esquece. É pura verdade.

Sou encantada por esse país.

Minha primeira vez, foi no inverno na década de 80. Minha linda e querida mãe me apresentou um pedaço do Uruguay e bem mais tarde, em 2003, fui de carro.

Atravessei o país de norte ao sul numa caminhonete, rasgando os pampas, sua planície, sua beleza e seu silêncio. De um lado ovelhas, do outro vacas. De um lado pasto, do outro pasto também. Nenhum posto, nenhuma construção, nada. Só a faixa pintada no asfalto e o infinito emoldurado no para-brisa do carro.

Todas as estradas no mundo deveriam ser iguais as estradas que cortam os pampas.

Sabe porquê? Um veículo cruza o seu a cada meia hora.

Fantástico, porque o meu "eu" morre de pavor de alta velocidade, de ultrapassar caminhões, carros e até carrinhos de bebês.

De repente me vi dirigindo a 160km/h . Incorporei as personagens do filme "Telma e Louise", e fui feliz por um período longo até chegar na "civilização" outra vez.

Muito antes disso, na fronteira do Brasil com o Uruguay, parei na alfândega, paguei as taxas e pedi algumas informações.

Pé no acelerador para chegar a Taquarembó , a primeira cidade depois da fronteira, antes do anoitecer.

Resolvi passear pela cidade e ver outros hotéis por que não confiei muito na "dica"do oficial da alfândega.

Os termômetros marcavam 2 graus. Desci do carro e fui conhecer o primeiro hotel que vi na cidade. Abri a porta do pardieiro, dei um passo e voltei para o carro.

A indicação na fronteira era precisa. Não dava para ser outro hotel. Meia volta vou ver.

Cheguei na recepção e pedi um quarto. Desculpe, não temos mais quartos. Como assim? É brincadeira ,não é? Era uma segunda-feira. Me sentei no sófá com meu travesseirinho a tiracolo e a única coisa que me passou pela cabeça foi: daqui não saio ,daqui niguém me tira.

A recepcionista, muito amável, me disse: Vou ligar para um Motel que fica bem próximo, quem sabe eles tenham uma suite que você possa passar a noite.

Obâ, um Motel, acho que vai ser bem engraçado!

O frio, a fome, o sono falaram mais alto que os hormônios sonados.

Voltei para o carro, dirigi uns 150 metros. Letras garrafais em neon anunciavam o colorido MOTEL LAS VEGAS.

Encostei o carro e uma senhora veio até o portão. Acho que estava dormindo. Ela foi a pé e eu dirigindo para me mostrar a Suite Master.

Nevava dentro do meu corpo. Desci do carro, tirei a mala, entrei no quarto. e meus olhos viraram 360 graus no quarto. A imagem que ficou, foi a pista de dança, uma cortina vermelha de veludo e minha mala encostada num sófa descorado. Pedi que ela limpasse de novo o banheiro e a trocasse os lençois. Sosseguei.

Senhora , preciso pedir comida. Só pizza, ela respondeu. Tudo bem. Em 15 minutos a tal pizza de queijo chegou dobrada e embrulhada em folhas de papel . Caixa de papelão não existe. Talher e prato, nem pensar. O jeito foi morder os pedaços com 10 camadas de queijo e não reclamar .

Fui tomar banho. O banheiro entupiu. Tudo aconteceu. A água começou a subir e alagou o banheiro. Senhoooooooooooooooora socorro!!!!!!!

Liguei a Tv para dar risada com aqueles filmes B de sacanagem. Para o meus espanto, liguei na Rede Globo. Isso mesmo, estava passando novela. Mais surreal que isso...

Resolvi dormir. Fui me cobrir e o lençol rasgou de ponta a ponta. Senhoooooooooooooooooooora!!!! Ela não me atendia mais.

Resolvi ir dormir no carro. Levei tudo que precisava. Durou menos de 1 minuto. O frio que fazia lá fora congelava o cilios. Voltei para o quarto, me deitei de roupa e dormi feito estátua.

No dia seguinte, corri para o hotel ao lado para tomar café da manhã.

Pedi um tostado, peguei o jornal, me sentei confortavelmente na poltrona de couro e tudo estava bem. Aquilo não havia acontecido, era apenas um pesadelo.

Faria tudo de novo, sem excluir nenhum detalhe.

A vida é para ser vivida assim, com leveza, com tiração de sarro, na brincadeira. Depois ela vira "causo"para contar para os amigos aqui no blog e a gente dar muita risada.