Nos meados dos anos 80, eu, ainda uma garota, assisti no Teatro dos 4 no Rio de Janeiro, Fernanda Montenegro na peça Lágrimas Amargas de Petra von Kant.
Completamente emocionada e trêmula fui até o camarim. Uma nuvem de jornalistas e fotógrafos, aguardavam a grande dama do teatro. E eu lá, no meio de tanta gente me senti completamente invisível. Dei muitos passos para traz e fiquei observando cada detalhe da coxia, respirando os deuses e tentando controlar uma emoção incontrolável. Resultado. Aquela mulher me viu no meio dessa nuvem. Até hoje me pergunto: Como ?
Ela passou pelos jornalistas e veio até mim, me abraçou , olhou fundo nos meus olhos e me perguntou: Você é atriz?
Vim trazer meu beijo, devo ter dito mais meia dúzia de palavras, entreguei o livro que escrevi de Poesias e por segundos o tempo congelou. Nos despedimos. E hoje, mais de 20 anos depois, lendo a revista Bravo (Maio 2009), que traz uma matéria sobre sua nova personagem no teatro, Simone de Beauvoir, me veio essa boa lembrança. A humildade dessa grande dama. Sua generosidade me acolheu com o gesto mais simples, o abraço. Num trecho da reportagem, ela tomou conhecimento de um espectador inusitado, um sapateiro de 93 anos que nunca presenciara uma peça antes. Fernanda se comoveu e indagou publicamente:" O que o senhor imaginava toda vez que pensava num palco?".
Ele, tímido, respondeu.": Eu não imaginava".
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